Bailarinos do Rio de Janeiro participam do Seminário e contam suas experiências

Ra-amon Almeida, Vitor de Paula e Renan Gonçalves contaram um pouco de sua história na dança e o que esperam do evento.
Keyla Reis
repórter da Agência Dance Brasil
Nem só de samba vive o Rio de Janeiro. Para representar o estado, quatro bailarinos vieram ao XXIII Seminário Internacional de Dança de Brasília. Conversamos com três deles, Ra-amon Almeida, Vitor de Paula e Renan Gonçalves que nos contaram um pouco da sua história na dança e o que esperam do evento.
O nome é egípcio, mas ele é proveniente do interior do Ceará, de onde partiu com a mãe há 14 anos e foi para o Rio de Janeiro se dedicar a dança. Ra-amon Almeida da Silva tem 17 anos e há nove se apaixonou por balé e dança contemporânea. A rotina difícil no interior fez a mãe de Ra-amon matriculá-lo em uma escola de dança para tentar melhorar a vida de ambos por meio da arte.
A resposta não demorou. O bailarino driblou as dificuldades do início da carreira, o preconceito que sofreu com sua escolha profissional e conquistou prêmios. “Apesar das dificuldades de viver de arte, não me imagino fazendo outra coisa”, disse.
Ra-amon é bailarino , formado na Escola Ateliê da Dança, em Vila Valqueire, na Zona Oeste. Hoje, é profissional profissional e professor de variação, balé clássico e de repertório em projetos sociais. O bailarino, que participa do Seminário pela primeira vez espera se sair bem no concurso e aperfeiçoar o aprendizado, além claro de ter a oportunidade de concorrer a bolsas de estudo no exterior.
Contusão, vestibular e… balé
Vitor de Paula Lima tem 18 anos e é carioca. Começou a dançar lamba eróbica aos sete, na escola, mas logo viu que não era bem isso o que queria. Entrou na aula de sapateado. Entre seu horário e outro, esperava uma amiga que estudava balé, para voltarem juntos para casa, até que um dia resolveu dar uma espiada na aula da amiga, e se apaixonou. “A resistência inicial com o balé na verdade era uma insegurança, porque meu pai é militar então ele com certeza não ia gostar de saber que eu fazia balé”, confessa o bailarino.
A paixão tomou proporções maiores e Vitor foi à luta. Um dos momentos mais difíceis foram as duas contusões que teve no joelho. Uma com estiramento de ligamento dias antes da apresentação em um concurso onde fez nove dos onze espetáculos, onde conquistou o primeiro lugar no concurso. A segunda contusão ele sofreu também em sala. “De repente a rótula do meu joelho virou para o lado. Na hora eu quis chorar, só de pensar que não dançaria mais. Nem senti dor, me bateu foi um desespero”, conta o bailarino.
No início desse ano prestou vestibular na Universidade Estadual do Rio de Janeiro e para a surpresa de toda a família, conseguiu o 9º lugar no curso de Turismo. Vitor pensou bem se era aquilo mesmo que ele queria no momento e resolveu engavetar o projeto de ingressar na faculdade. “Minha família toda me parabenizou, mas também me apoiou quando eu disse que não iria cursar turismo”, lembra.
Para Vitor viver de balé no Brasil é uma questão de amor e só fica mesmo quem ama a dança. “Balé é uma carreira incerta, mas é o que eu amo. Estou aqui em busca de uma oportunidade. Quero uma bolsa para estudar fora”, confessa.
O bailarino cego
O bailarino carioca, Renan Gonçalves Martins (18) participa pela primeira vez do seminário. Morador do subúrbio do Rio de Janeiro, ele estuda balé clássico desde os 12 anos e atualmente participa da Escola Ateliê da Dança, em Vila Valqueire, Zona Oeste.
Para estar aqui foi quase uma maratona para o atleta. Com muita dificuldade financeira Renan, que mora com a avó, mas vive sob a tutela da tia, a comunicou dias antes sobre o interesse em participar do evento. Ela por sua vez tirou dinheiro da poupança do garoto, dinheiro este proveniente da pensão que a mãe falecida deixara, além da ajuda da tia para custear alimentação e os tickets para participar das aulas. Cada ticket custa R$ 50 reais, Renan não possui o Passe Livre (que permite participar de todas as aulas do curso), então está economizando para as aulas mais importantes e de interesse dele.
Renan conta que a mãe era uma de suas maiores incentivadoras e sempre procurava acompanhá-lo e ajudá-lo a participar de tudo. “Pagar R$ 48 reais em uma sapatilha que de tempos em tempos terá que ser trocada, acaba saindo caro, mas estar aqui é uma excelente oportunidade”. Renan que sonha com a experiência no exterior e os olhos brilham quando cogita a possibilidade de ser escolhido por um dos professores olheiros, no seminário. “Quero um contrato, ou estágio ou bolsa para estudar no exterior”, sonha. .
As dificuldades não param por aí, Renan tem o olho direito completamente comprometido. O bailarino é cego de uma visão e dança sem seus óculos. Ele não sabe como mas quando sobe no palco tudo sai direito. O bailarino afirma que a debilidade não chega a comprometer seu desempenho na arte. “Nunca cai no palco e nunca houve nenhum acidente, graças a Deus”. O caso de Renan, ao que tudo indica, é reversível mas só é possível com a ajuda de médicos.
Renan está hospedado, junto com seus colegas no alojamento oferecido gratuitamente pelo evento, no Guará (DF). O bailarino já gastou cerca de R$ 2 mil reais para participar do seminário, mas por limitações financeiras ficará de fora de algumas aulas.
Este é um evento da Secretaria de Estado da Cultura do Distrito Federal em parceria com a Associação Cultural Claudio Santoro.
Este evento faz parte do programa DANCE BRASIL.